terça-feira, 8 de março de 2011

décima primeira carta

Já ando adiar esta carta algum tempo, pois não sei bem o que dizer.
Nunca fomos muito próximos. Não vivíamos no mesmo país e só nos víamos nas férias. Não me lembro de momentos que passei contigo. Lembro-me de poucos momentos: de ires buscar comida ao MC e comermos em casa da avó; do avô fazer o pino e estarmos sempre a jogar ás cartas. Nessa altura o avô era a pessoa mais divertida que eu conhecia, ao invés de agora. Eu sabia que estavas doente no hospital, mas não sabia que era algo que te levasse para longe. Nunca soube do que é que partis-te, só soube que andavas mal; a mãe andava sempre a ligar-te e a ir a França ter contigo.
Felizmente, não tinha muita escolha a quem escrever esta carta. Mal vi o tema lembrei-me imediatamente de ti. Mas queria também aproveitar esta carta para relembrar outra pessoa – bisavó: já partis-te algum tempo; era tão pequenina que não sofri pela tua partida, e não me lembro bem do que se passou. Lembro-me daquele quartinho pequenino que tinhas em casa dos avós; estavas sempre deitada e eu ia ter contigo. Não gostavas de carne, tal como o mano. Deitada na cama, ficavas com a ponta de uma corda, eu em pé, ficava com a outra e brincávamos - divertia-me imenso; adorava ir aquele quarto ter contigo; passava lá bons momentos. Mas chegou a hora de tu ires. Fui-te visitar muitas vezes ao cemitério, todos os sábados te levava flores com a tia; mas, não sei bem porquê, á noite ficava sempre com pesadelos: sonhava que estavas enterrada em casa dos avós e coisas parvas assim… A partir daí nunca mais te visitei, e talvez por isso tenha tanto medo de caixões e de cemitérios, tenho tanto medo de tudo que envolva morte. Hoje em dia já não vou muito ao teu quartinho, tenho medo, assusta-me; e sinceramente, acho que também assusta o mano. Desculpa não te ir visitar nem me lembrar muito de ti. Tenho saudades, e espero um dia voltar-te a ver novamente.
Voltando a quem eu queria mesmo escrever: quando me disseram que tinhas partido estava a ir para a escola, o sol estava a brilhar imenso e eu pensava que ia ter um dia excelente; mas enganei-me. Quando me disseram fiquei paralisada, nem queria acreditar no que se tinha passado. Quando cheguei á escola tive o conforto e compreensão da prima Nice; que me abraçou profundamente sem ninguém perceber ao certo. Nesse momento quando via uma flor pensava: para ele já não vai haver mais flores; via algo e pensava: para ele já não vai haver mais isto. Nunca me irei esquecer dos choros da mãe no dia 10 de Outubro de 2010; eu só soube no dia a seguir.
Chegou o dia do teu funeral, eu não queria ir, nunca tinha ido a nenhum. Chegando lá, deram-me um ramo com um cartão que dizia “eterna saudade”; irá ser sempre uma eterna saudade. Estava desconfortada por estar ali; mas veio a madrinha confortar-me; deu-me a mão e eu apertei-a imenso… Estávamos relativamente bem… Até que o teu caixão saiu daquela casinha pequenina e foi para a Igreja; aí tudo mudou. A prima e a tia agarraram-se a chorar, e aí também me deu uma vontade enorme de chorar, mas não o fiz. Á noite não conseguia dormir, só ouvia vozes aos gritos na minha cabeça, foi horrível. Andei semanas terrivelmente aterrorizada! Afastei-me de pessoas, dizem que mudei; não te estou a culpar por isso, longe de mim. Mas a tua perda mudou-me muito, mudou a minha maneira de encarar a vida e as pessoas, talvez por isso me tenha afastado de algumas delas.
Tu fazes muita falta á família, o avô está sempre a chorar e já não é aquela pessoa divertida que era e que eu tanto amava; está sempre a falar de ti e depois chora, isso incomoda-me imenso.
Daqui a dois dias faz um ano que partias-te. Como o avô diz “eu só queria ir lá ao céu, e perguntar-lhe: estás bem Meno?”, eu também só queria saber se estavas bem, estás? Espero que sim.
Depois de ires, durante algum tempo sentia uma presença ao meu lado, mas não via ninguém; pensava que eras tu, eras? Sentia isso principalmente quando estava sozinha em casa, olhava a tua foto e tinha a certeza de que eras tu… Espero que sejas. Essas sensações levaram-me a acreditar que havia vida para além da morte, ou que pelo menos estavas presente de alguma maneira.
Ainda há tanto para dizer, mas não me vou estender mais. Tinha tantas perguntas para te fazer que não fiz, tanta coisa para te dizer que não disse, tantos sentimentos para transmitir que não transmiti…
Mas tu sabes: eu amo-te!
Sabes que vai ser sempre uma Eterna Saudade, ou pelo menos uma Terrena Saudade; espero voltar-te a ver num caminho por de trás de um raio de sol.
Amo-te tio <3

com amor, a pessoas falecidas com quem eu gostaria de falar.

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